Luciano Lopes (*)
Uma aridez de pensamentos me corrói.
Amanheço sem querer e, no papel, as
palavras não vêm.
Acendo luzes, canso rápido de seus
brilhos, e as apago.
O estômago dói.
Como e não me satisfaço. Vou além e não me
preencho.
O vazio é o único que se alimenta de
mim.
Bebo água e, como rio, encho. E seco.
Estou doente de corpo? Estaria sisuda a
minha alma? Minto.
Corro e não avanço. Tropeço e fico no
chão.
Levantar para quê? Penso. De pé é mais
fácil. Ou não.
Em mim, o prazer é um momento e o
sofrimento dura mais.
Porque sorrir é uma boa desculpa para
esconder o quanto sofro.
O que eu tenho, então?
Pergunto aos passarinhos que me habitam,
mas
aquele que bate vermelho se recusou a
falar.
Foi então que constatei o pior: o que eu
tenho é preguiça mesmo.
(*) Jornalista e editor do Colcha de Letras.