A Política dos Sentidos


Luciano Lopes (*)

A partir de hoje, fica instituído que todos os cinco sentidos do corpo – olfato, tato, audição, paladar e visão – somente serão usados pelo ser humano para o amor.

Sobre o olfato, vale dar cheirinho no pescoço, na barriga e atrás das orelhas. Tesão e arrepios não serão passíveis de autorização, pois acontecem deliberadamente em razão do progresso e da desenvoltura de quem oferece a experiência sensorial.

Sobre a audição, todos têm direito a ouvir palavras cativantes, versos safadinhos, música romântica e juras de amor. Fica proibido o silêncio entre as pessoas que se gostam ou se amam.

Sobre a visão, o amor começa no olhar. Flertar saudavelmente com a pessoa amada é lei das mais bonitas. Admirar também.

Sobre o tato, está automaticamente liberado o carinho que conforta ou seduz, o toque que desperta desejo, que alimenta a paixão. Vale ressaltar que o tato deve ser consensual. Se um não quer, ninguém tem.

E sobre o paladar, fica instituído que beijar é obrigatório. O beijo, quando vale a pena, tem o melhor gosto: a textura do sentimento. Quem beija é mais feliz. Beijo emagrece – quando bem dado, é muita caloria queimada. Beijo rejuvenesce – um simples “selinho” com afeto equivale a uma ruga a menos no corpo e um mês a mais no calendário da vida.

Parágrafo único: Se você ama alguém, e esse amor é recíproco, não perca tempo. Dê um cheirinho no cangote. Fale ‘eu te amo’ repetidas vezes. Escute o que ele ou ela tem a lhe dizer no pé do ouvido. Olhe no fundo dos seus olhos com sentimento. Dê um beijo caloroso, tire o batom dela (ou dele), dê mordidinhas suaves nos lábios. Faça amor. Ame. Ame de novo. Ame sempre. Se você não ama como antes, reinvente o amor – ainda pode haver uma chance. E se o amor acabou, não desista. Haverá sempre alguém à espera com o coração nas mãos.

(*) Jornalista e editor do Colcha de Letras.