Luciano Lopes (*)
Se sonho com manga, acordo capanga.
Se sonho com dente, a morte pressente.
Se sonho com amora, me firo na espora.
Se sonho com dor, meu corpo dá bolor.
Se sonho com espuma, escorrego na duna.
Se sonho com bicho, reciclo meu lixo.
Se sonho com panela, é comida na goela.
Se sonho com homem, o meu sol se põe.
Se sonho com bruxa, o vento me puxa.
Se sonho com balão, dá saudade do chão.
Se sonho com bala, a glicose embala.
Se sonho com prego, martelo meu ego.
Se sonho com lombo, esqueço o pombo.
Se sonho com cores, afago meus amores.
Se sonho com nada, só pode ser cilada.
Se sonho com tudo, enlouqueço meus mundos.
(*) Jornalista e editor do Colcha de Letras.