Luciano Lopes (*)
Sou um homem
de silêncios.
Escrevo mais
do que falo.
Observo mais
do que grito.
Logo eu, que
queria ser músico, mas não toco nada.
Que queria
cantar, mas não entendo de notas e semibreves.
Dó de mi.
Logo eu, que
na adolescência ouvia música alta.
E não
escutava o que a vida queria me dizer.
Passei anos
à procura de meus tons certos.
Meus ecos
eram outros, fortes, frequências para todas as direções, sem parar, sem parar.
Mas o ruído
cansa.
E a gente
cansa de si mesmo às vezes.
Eu me calei,
diante da vida, diante de todos.
No meu
peito, um vazio gritava.
Logo eu, que
não tolero ruídos, descobri que o maior ruído era eu mesmo.
Sou um homem
de silêncios.
Meu silêncio
é meu ruído.
Meu ruído é
um grito calado.
Você
consegue me escutar?
(*) Jornalista e editor do Colcha de Letras.